Siena Root: a magia dos anos 70
Ainda dá! Este texto eu escrevo para os amantes cabeça-dura do rock setentão, aqueles que não conseguem satisfação plena com a produção musical atual. Para aqueles que defendem com convicção a idéia de que “a magia daquela década não se reproduz hoje”. Escrevo isso com prazer e alívio, pois posso dizer que conheci uma banda que satisfaz todos os pré-requisitos que compõem a bendita “magia” do rock dos anos 70. Guardem esse nome: Siena Root. Formada em 1997 em Estocolmo, Suécia, a banda era composta por Oskar Lundström (vocais, teclados), KG West (guitarra, vocais), Sam Riffer (baixo, vocais) e Love H. Forsberg (bateria). Ganharam moral no underground sueco, até conseguirem contrato para a gravação do álbum de estréia, A New Day Dawning, em 2004. Lá já estava a matriz do som da banda: blues, hard rock clássico de monstros como Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple, com riffs encorpados, cozinha repleta de groove, fartura de órgãos Hammond e longas e viajadas jams, abastecidas por boas doses de rock progressivo e psicodélico. Estréia mais que promissora! Apesar da promessa, em 2005 o grupo passa por uma reformulação. Sai o Oskar, dando a vaga para Sanya, detentora da mais poderosa voz feminina do rock atual, na minha opinião. Sua entrada deu mais charme e poder à banda, fazendo com que a semelhança do seu som com os clássicos 70’s se acentuasse de forma surpreendente. Os teclados são assumidos por KG West. No mesmo ano gravaram o batismo de fogo de Sanya à frente dos vocais, o maravilhoso EP de duas músicas intitulado Mountain Songs. A primeira faixa, Mountain Songs I, apresentava um groove rock banhado em teclados Hammond, uma percussão malandra e um colorido psicodélico nas experimentações. Em Mountain Songs II o que se apresenta é um blues rock mais suave e viajante, com uma aula de interpretação de Sanya. O EP com a nova formação chamou a atenção de fãs e da crítica especializada, o que gerou grande expectativa para o primeiro full lenght com Sanya. Em 2006 vem o golpe de misericórdia. É lançado Kaleidoscope, oito faixas de puro deleite musical, um álbum daqueles que a gente gosta de bater no peito e dizer “é perfeito da primeira à última música”. Tudo que a presença de Sanya representou como promessa foi cumprido. As jams ficaram mais ousadas, as linhas de guitarra e teclado atingiram um nível de excelência surpreendente, o vocal de Sanya definitivamente cresceu e assumiu sua importância, a cozinha tornou-se mais relevante no som da banda, tudo ficou mais redondo. A influência da música indiana, com cítaras e notas repetidas e hipnóticas, se faz presente na épica Bhairavi Duhn. A perfeição do álbum se traduz claramente em Nightstalker, a segunda faixa. Difícil descrevê-la. Posso dizer que a “magia” está lá. Dá para imaginar essa faixa estourada nas rádios rock em 1972, por exemplo. Na minha humilde opinião, a melhor música de 2006. E, até gora, não ouvi nada neste ano que a tire do trono. Não espere do Siena Root nenhuma revolução na música. Essa não é, nem de longe, a intenção deles. Parece que eles nunca ouviram falar em gravação digital ou sonoridade hi-fi. Em contrapartida, eles representam um farto banquete em timbres quentes, guitarras valvuladas, baterias e baixos graves, teclados viajantes, vocal poderoso e bluesy, enfim, música feita com a alma. Como disse aos amantes de rock 70 no início do texto, a esperança está viva. Ainda dá! Cristian Pundonor Nota: Siena Root, apesar de toda a sua qualidade, ainda é uma banda bastante obscura. Há pouco material à venda, e os preços são absurdos. Portanto, o bom e velho mp3 é inevitável. Saiba mais sobre essa preciosidade em www.sienaroot.com ou www.stonerrock.com.